Venho, através desses versos,
Tratar de um assunto sagrado,
Ao ser humano, ligado,
E ao coração que procura
Com afã, a criatura,
Para se consorciar,
E com ela desfrutar
Vida plena, paz, amor:
Porque Deus só nos criou
Pra viver bem e amar…
Porém, eu sei que tem gente,
Muita gente nesse chão,
Que vive na solidão,
Sozinho e desconsolado:
Igual um bicho largado,
Abandonado, interdito…
Porém eu digo e repito,
E aposto com quem quiser,
Que é só porque ele quer,
Que ninguém ouve seu grito…
E é fácil de concluir
O que acabo de afirmar…
Pois é difícil encontrar
Um ser humano vivente,
Que nunca plantou semente
De amor num coração…
Ainda que a ingratidão
Tenha sido a safra colhida…
(Porque faz parte da vida
de quem semeia paixão)…
E digo: o bom dessa vida
É estar sempre apaixonado,
Sentimento reservado
Ou, por alguns, conhecido…
Pois um amor bem nutrido
Nos remoça e nos refaz…
Seja menino ou rapaz,
Idoso, idosa ou menina
Essa é uma doce sina:
E a gente quer sempre mais…
Eu, pelo menos, confesso,
Com orgulho declarado:
Sempre fui apaixonado,
E, desde meus nove anos,
Já arquitetava planos
Pra cima das menininhas…
Pra mim, princesas, rainhas,
E, em meu sonho de criança,
Já vivia essa esperança,
E pensava: todas são minhas…
Mas, naquele tempo, sei
Era uma paixão de folguedo
(Eu tinha mesmo era medo
Que alguma me desse bola)
Afinal, nessa escola,
A gente é sempre aprendiz:
Pouco se faz, muito diz,
No ímpeto de crescer,
Querendo prevalecer:
No afã de ser feliz…
Mas o homem vai crescendo,
As coisas se transformando,
E cada um procurando
Um coração pra se plantar:
Pro amor-semente brotar…
Um coração, generoso,
Dedicado, carinhoso…
Um coração adubado,
Que esteja preparado
Pro broto nascer frondoso…
E, na busca vai se encontrando
Terra ruim, terra boa…
Mas a semente-pessoa
Não brota em terra qualquer:
Só se a semente quiser…
Se a raiz não for nutrida,
Com a seiva requerida,
A planta toda enfraquece:
Todo o seu vigor fenece,
E ela fica sem vida…
E quando a semente encontra
Terrenos que foram estradas…
De ponta a ponta pisadas,
Onde tanta gente andou? …
Sem respeito, machucou,
Sangrou, em vez de lavrar,
Só gostou, em vez de amar,
E não regou, não adubou,
Só usou, só explorou:
Como um espinho a perfurar…
Essa terra tá sentida,
Tá brutalmente marcada,
E não é qualquer enxada
Que vai plantar nesse chão…
De muita compreensão,
O semeador vai precisar,
Se quiser ver prosperar
A semente ali deitada…
E com força redobrada,
Dela terá de cuidar…
Mas, o sofrimento e o amor
Tornam essa terra bendita…
E superada a desdita
Que, um dia, ela sofreu,
Todo o carinho que deu,
O semeador paciente
Vai ter de volta em presente…
Presente multiplicado
Pelo grande amor doado:
Gratuito e persistente…
E o chão, antes maculado,
Violentado e ferido,
Ressurgirá, revivido,
De todo aquele tormento:
Curado pelo unguento
Do amor puro e sagrado,
O bálsamo abençoado…
E retribuirá, então,
Com frutos de gratidão,
Por tão sublime legado…
Mas também, infelizmente,
Existe terra tão ruim,
Que não nasce nem capim…
São terras secas, sem viço,
Sem o menor compromisso
Com a semente plantada:
Terra só pra´ ser mostrada…
Exibe bela textura:
Branca, fina, muito pura,
Porém, nunca produz nada…
Porque se acham tão nobres,
Porque se acham tão puras
São frias, secas e duras,
Não se deixam penetrar…
E, quem tentar semear,
Nessa terra, com certeza,
Vai ver, com grande tristeza,
O grão não ser acolhido…
E acabar ressequido:
Queimado pela aspereza…
São espaços de vaidade,
Com espinhos, poucas flores:
Sempre em busca de amores
E, solitários, sem amor…
Será sempre sofredor,
Quem deles se aproximar:
Porque só escutará
Queixume e reclamação…
Como pode uma paixão,
Num solo assim, vicejar…?
Por isso é que muita gente
Pra essas terras não se lança,
E nem cultiva a esperança,
Em terra que não seja boa…
Pois a semente pessoa
Não brota em chão desleixado,
(Que abandona o grão plantado)
Quem resolver plantar lá,
No final, vai comprovar:
Seu esforço foi malgrado…
Agora leitor, responda,
O que vamos perguntar:
Será que dá pra plantar
Em nós, somos terra boa…
Dessa semente – pessoa,
Com seiva de sentimento
Crescerá doce rebento…
Nessa resposta se encerra
Pra todos, um julgamento:
Pois o amor-sentimento…
Que a semente carregar,
Só pode se instalar…
Com o nosso consentimento!