Por não poder suportar
A dor que em meu peito grassa
Eu tomei uma cachaça
E fui me encontrar com ela.
Essa mulher quente e bela
Mas que me fez grande afronta
Quando me encheu de ponta…
E eu ainda gosto dela!
Ela já sorriu pra mim,
Tão logo me aproximei…
Ela me ama, ponderei,
E, além disso, como é bela…
Ligeiro, corri pra ela
E pros seus lábios de carmim.
Esqueci de tudo, enfim…
Porque ainda gosto dela!
Refém desse pérfido encanto,
E traiçoeiros olhos de mel…
Eu a via como um troféu
Ganho em disputa singela…
Meu coração me interpela
Entre o desejo e a vingança:
E eu tremo feito criança…
Porque ainda gosto dela!
Assim, na minha paixão,
Deliberei perdoá-la,
Com o rebento que plantara
Na minha pobre capela…
Aquela triste mazela,
Enraizada e nutrida.
Pensei, faz parte da vida…
Porque ainda gosto dela!
Afinal, é só um galho
Que se tem, mas não se vê.
Assim, ninguém vai saber:
É um morto sepultado…
Meu orgulho, magoado,
Tá liberto dessa cela.
E sinto paz, tou tranquilo…
Porque ainda gosto dela!